Bom, para inaugurar a nova fase do site, vou postar uma crônica escrita pela jornalista Carla Marcos. Obviamente eu sou suspeito pra falar isso, mas a minha maninha é boa mesmo, é só conferir o texto :)
Chove chuva... chove sem parar
por Carla Marcos
Mais uma semana molhada em Luanda. Nessa semana molhada o que mais vi foi gente a correr encolhida sob a chuva que chegou sem pedir licença e insistiu em cair. Poças d''água formaram-se pela cidade. Poças não. Lagoas, lagos e até rios complementaram a paisagem de Luanda.
A chuva está mesmo a mudar a vida da cidade. Testemunhas até dizem ter visto peixes debatendo-se nas águas sujas, mas isso é só um pequeno detalhe perto de muitos outros grandes detalhes que acontecem na cidade da kianda, onde o pânico começa a tomar conta da população já que, o simples acto de sair de casa tornou-se uma aventura. E já que tenho me arriscado em sair de casa nessas semanas molhadas, não me custa nada também arriscar dizer que em 2008, nas próximas olimpíadas, seremos recordistas mundiais nos desportos radicais que, por mérito nosso, passarão a ser considerados desportos olímpicos. Medalha de ouro no salto em buraco, medalha de ouro no escorrega mas não cai... enfim. Subiremos ao pódio como verdadeiros campeões que somos, afinal, somos todos desportistas natos, por livre e espontânea obrigação.
Mas, enquanto as olimpíadas não chegam, a cidade está à beira de um colapso e o risco de epidemias é cada vez maior. Consta que nessas semanas molhadas, mais da metade da população infantil de Luanda foi atacada por uma gripe forte que chegava sempre acompanhada de tosse. Covardia dessa gripe. Poderia muito bem ter atacado pessoas do tamanho dela. Alguém sabe qual é o tamanho da gripe? Ah... isso também é só mais um pequeno detalhe que não vem ao caso agora.
O caso é que a situação complica-se de gota em gota. Daqui a pouco não teremos outra alternativa a não ser decretar estado de emergência, mas não tem makas. Nós angolanos, criativos por necessidade, encontraremos soluções para amenizar a situação das águas e, analisando friamente vai ser até vantajoso termos mais semanas molhadas durante o ano. Vejamos:
Invés de carros, teremos que sair para trabalhar em iates. Imaginem só que chique. Os ditos países desenvolvidos vão nos invejar por isso.
Os filhinhos de papai e outros adolescentes rebeldes sem causa que hoje desfilam com as famosas motos quatro rodas, brevemente estarão exibindo as suas motas dágua ou jets skis, como preferirem. Os menos abastados terão que se contentar com canoas e os menos abastados ainda utilizarão jangadas, o meio de transporte que substituirá os já tão vulgares azuis e brancos que nos habituados a ver pela cidade.
Os ambulantes, esses vão facturar como nunca com a venda de botes e coletes salva-vidas, bóias, remos e afins. O mercado de trabalho vai crescer com a abertura de escolas de natação já que saber nadar começa a ser, na nossa cidade, uma garantia de sobrevivência. (Quem quiser aproveitar a dica de um bom negócio sinta-se à vontade).
Os casais românticos nem precisarão ir à Veneza para experimentarem os tão famosos passeios de gôndolas. Os nossos empresários de visão saberão investir e explorar esses serviços de forma justa, como tudo aqui na terra.
E por fim a melhor de todas. Em tempos de crise, não precisaremos mais ficar 12 horas numa fila de combustível. Teremos a opção de barcos à vela, outro desporto onde teremos grandes possibilidades de Ouro olímpico em 2008.
Chove chuva... chove sem parar
por Carla Marcos
Mais uma semana molhada em Luanda. Nessa semana molhada o que mais vi foi gente a correr encolhida sob a chuva que chegou sem pedir licença e insistiu em cair. Poças d''água formaram-se pela cidade. Poças não. Lagoas, lagos e até rios complementaram a paisagem de Luanda.
A chuva está mesmo a mudar a vida da cidade. Testemunhas até dizem ter visto peixes debatendo-se nas águas sujas, mas isso é só um pequeno detalhe perto de muitos outros grandes detalhes que acontecem na cidade da kianda, onde o pânico começa a tomar conta da população já que, o simples acto de sair de casa tornou-se uma aventura. E já que tenho me arriscado em sair de casa nessas semanas molhadas, não me custa nada também arriscar dizer que em 2008, nas próximas olimpíadas, seremos recordistas mundiais nos desportos radicais que, por mérito nosso, passarão a ser considerados desportos olímpicos. Medalha de ouro no salto em buraco, medalha de ouro no escorrega mas não cai... enfim. Subiremos ao pódio como verdadeiros campeões que somos, afinal, somos todos desportistas natos, por livre e espontânea obrigação.
Mas, enquanto as olimpíadas não chegam, a cidade está à beira de um colapso e o risco de epidemias é cada vez maior. Consta que nessas semanas molhadas, mais da metade da população infantil de Luanda foi atacada por uma gripe forte que chegava sempre acompanhada de tosse. Covardia dessa gripe. Poderia muito bem ter atacado pessoas do tamanho dela. Alguém sabe qual é o tamanho da gripe? Ah... isso também é só mais um pequeno detalhe que não vem ao caso agora.
O caso é que a situação complica-se de gota em gota. Daqui a pouco não teremos outra alternativa a não ser decretar estado de emergência, mas não tem makas. Nós angolanos, criativos por necessidade, encontraremos soluções para amenizar a situação das águas e, analisando friamente vai ser até vantajoso termos mais semanas molhadas durante o ano. Vejamos:
Invés de carros, teremos que sair para trabalhar em iates. Imaginem só que chique. Os ditos países desenvolvidos vão nos invejar por isso.
Os filhinhos de papai e outros adolescentes rebeldes sem causa que hoje desfilam com as famosas motos quatro rodas, brevemente estarão exibindo as suas motas dágua ou jets skis, como preferirem. Os menos abastados terão que se contentar com canoas e os menos abastados ainda utilizarão jangadas, o meio de transporte que substituirá os já tão vulgares azuis e brancos que nos habituados a ver pela cidade.
Os ambulantes, esses vão facturar como nunca com a venda de botes e coletes salva-vidas, bóias, remos e afins. O mercado de trabalho vai crescer com a abertura de escolas de natação já que saber nadar começa a ser, na nossa cidade, uma garantia de sobrevivência. (Quem quiser aproveitar a dica de um bom negócio sinta-se à vontade).
Os casais românticos nem precisarão ir à Veneza para experimentarem os tão famosos passeios de gôndolas. Os nossos empresários de visão saberão investir e explorar esses serviços de forma justa, como tudo aqui na terra.
E por fim a melhor de todas. Em tempos de crise, não precisaremos mais ficar 12 horas numa fila de combustível. Teremos a opção de barcos à vela, outro desporto onde teremos grandes possibilidades de Ouro olímpico em 2008.
Carlinha sempre sabia com as palavras, com seu humor critico e desafiador.. Maravilhosa ! Beijos ja saudosos..
ResponderExcluirUma gota de observação, uma chuva de inspiração , uma trovoada de emoção e uma torrente de inteligência. É isso que é a sua crônica, beijos e saudades. Aline Lisboa
ResponderExcluirtem critica,tem jindungo,tem piada,quanto a mim "os quês" que uma crónica deve ter.está um pouco como a world music,linguagem para conquistar praças internacionais,embora eu reconheça que justificaria um pouco do linguajar da terra.Já agora ,em ombaka não se xumbica e nem há catrongas ?continua carla
ResponderExcluirUm banho de informação e de criatividade. Inveja.
ResponderExcluirexcelente artigo que muito me agradou!!!
ResponderExcluirAfinal, relatar os factos com verdade, responsabilidade e criatividade, não é pra qualquer um. Só fazem os melhores!Muito bom!!!
ResponderExcluirBom na verdade, deixa-me aproveitar a oportunidade de cumprimentá-la e dizer esta o máximo.- De realçar que há males que vem por bem, não será mesmo o Senhor que planificou chuvas do género para suprir a falta de emprego, porque quanto mas alto e o nível de dificuldades maior aumenta a capacidade de criatividade dos homens. Assim sendo, o meu compadre que passa a vida lá no engarrafamento a espera do primeiro distraído... poderá já agora montar o seu primeiro emprego, sem necessitar de financiamento de nehum dos 1001 bancos novos, tão pouco do G.... salve o erro. Rent-Costas Você já não tem mas necessidade de se preocupar como chegar limpo e seguro ao seu trabalho, levamos-lhe onde quer que seja.
ResponderExcluirOra, ora. Muito agradeço o comentário de um membro do Club-K no meu singelo canto da web :)
ResponderExcluirQuanto ao artigo, realmente foi muito bom, vou até pedir a ela para escrever mais... quem sabe assim até aumenta o tráfego no site hehehe